terça-feira, 7 de outubro de 2014

Hoje nós vamos fazer algo diferente. Ao invés de falar sobre um filme em especial, eu vou falar sobre um conceito que nós já vimos diversas vezes, que tem muito potencial quando executado de maneira correta, mas que pode ferrar com tudo se não for. Hoje nós vamos falar das sex tapes de celebridades, e sobre como elas sempre são curtas demais. Não, mentira, nós vamos falar sobre viagens no tempo.


Brincadeira. E mesmo que não fosse, não dá pra ser feito - é um paradoxo. Se, digamos, Dustin Diamond consegue voltar no tempo e impedir a divulgação de, sei lá, Screeched (um oi pro Google que me ajudou a achar um exemplo tão preciso e tão aleatório), então Screeched nunca terá sido divulgado, e ele nunca terá precisado voltar no tempo para impedir a divulgação do filme, mas se ele não voltar no tempo para impedir a divulgação do filme, o filme será divulgado e ele vai ter que voltar no tempo, e assim sucessivamente. É uma bola de neve, uma bola de neve triste e broxante.
Parece um conceito simples, certo? Quando você viaja pro passado, você não pode mudar as circunstancias que te levaram ao passado, por que se você mudá-las, você nunca terá voltado no tempo para mudá-las. Um conceito tão simples que tanta gente ignora completamente. Como as máquinas em O Exterminador Do Futuro.

Por que as pessoas que eu quero ver sem roupa nunca lançam sex tapes?

Sim, O Exterminador Do Futuro tem um buraco no roteiro tão grande que o Arnold Schwarzenegger conseguiria passar por ele (pelado), e essa falha está diretamente relacionada a tal viagem no tempo. No filme, as máquinas que dominaram o mundo decidem se livrar do líder da rebelião, John Connor, mandando o Arnold Schwarzenegger pro passado, pra matar a mãe do John Connor antes mesmo dele nascer. Você consegue encontrar a falha nesse plano brilhante? Digamos que o plano de certo, que o Schwarzenegger consiga matar a mãe do John Connor, impedindo que ele nasça e assim acabando com a rebelião antes mesmo dela acontecer. Se a rebelião nunca aconteceu, as máquinas nunca consideraram John Connor uma ameaça, e por isso nunca mandaram o Schwarzenegger pro passado para matar a Sarah Connor, logo o John Connor nasceu, e olha só, um paradoxo. Ironicamente, o plano das máquinas de se livrar do John Connor acaba causando a existência dele. No filme, John Connor manda um soldado, Kyle Reese, para proteger sua mãe (por que aparentemente ele também não se dá conta de que o Arnold Schwarzenegger literalmente não pode vencer), e Kyle Reese faz um pouco mais do que simplesmente proteger Sarah Connor - ele planta uma semente na barriga dela, e essa semente se torna John Connor. Então, veja só, a missão do Arnold Schwarzenegger não só é um fracasso, mas é um fracasso de proporções épicas! E essa não é a primeira vez que isso acontece. Lembra quando a Katherine Heigl matou o Hitler?

Presumidamente quando todo mundo achava que eles viveriam felizes para sempre.

Eu estou falando do episódio da segunda refilmagem de Além Da Imaginação, Cradle of Darkness. No episódio em questão, Katherine Heigl volta no tempo para matar Adolf Hitler quando ele ainda era um bebe, assim salvando a vida de todos os que morreram na segunda guerra mundial. Eu acho que falar sobre a grande falha no coração do plano dela seria redundante, considerando que é, literalmente, a mesma falha de O Exterminador do Futuro. Não, ao invés disso eu vou falar sobre como ela acaba criando Hitler por acidente. O bebe que ela mata era uma criança inocente. O bebe que uma empregada dos Hitlers compra para substituir o bebe morto é o que cresce para se tornar Adolf Hitler. Nos momentos finais do episódio, Forest Whitaker revela a moral da história: o passado não pode ser mudado, nem em Além da Imaginação.
Um outro filme que usa o conceito de viagem no tempo como uma ferramenta da história é De Volta Para O Futuro, com Michael J. Fox, Christopher Loyd, e o carro dos meus sonhos, um DeLorean capaz de viajar no tempo. No filme, Michael J. Fox é um adolescente que acidentalmente viaja para 1955 enquanto tenta escapar de um grupo de terroristas, por que sim. No passado ele acidentalmente impede que seus pais se conheçam, e agora ele nunca nasceu - oh não! Agora ele tem que fazer os pais dele se conhecerem e se apaixonarem antes que ele seja apagado completamente da existência. O problema sendo que, logicamente, se ele for apagado da existência, ele nunca terá voltado no tempo e nunca terá impedido seus pais de se conhecerem, o problema resolverá a si mesmo - mas quem ia assistir um filme assim? Enquanto no passado, Michael J. Fox muda o futuro, e quando ele volta para o presente, sua família é mais feliz, e o Christopher Loyd está vivo por que ele usou um colete à prova de balas, depois que o Michael J. Fox o avisou que sobre os terroristas que, convenientemente, não iriam atirar na cabeça dele.

"E também, os números da Mega Sena"

O interessante é que, em De Volta Para O Futuro, as alterações menores (tudo é menor quando comparado com acidentalmente impedir seu próprio nascimento) não ocorrem na linha do tempo original, mas sim em um universo alternativo. Assim: Os eventos em verde são os eventos oficiais (tudo que aconteceu antes de 1955, tudo que aconteceu depois de 1985 (2), a linha pontilhada representando os anos entre 1955 e 1985 (2). Isso é um universo, o universo oficial. Os acontecimentos de/depois de 1985 (1) ou não aconteceram, ou ainda aconteceram, mas em uma linha do tempo alternativa (universo 2). A linha em laranja são os eventos que tiveram que ser alterados para que 1985 (1) e tornasse 1985 (2).


Algo parecido aconteceu na série britânica Doctor Who. No episódio 11 do quarto serial, Vire a Esquerda, Donna Noble se vê presa em uma linha do tempo alternativa (também conhecida como "universo da Donna", para discussões sobre o episódio) na qual ela nunca conheceu o Doutor e os resultados dessa alteração são catastróficos. O foco da história retorna a linha do tempo oficial quando a Donna causa um paradoxo superior ao paradoxo original (é complicado, esse episódio merece um post só dele). Uma teoria é que ambos os universos existam simultaneamente, uma teoria bastante popular na ficção cientifica, especialmente nas histórias em quadrinhos. De acordo com essa teoria, a Donna do universo alternativo não impediu a criação de seu próprio universo (o que seria um paradoxo), apenas mudou o status de seu universo para "universo paralelo", como o Gato de Schrödinger, que está morto e vivo ao mesmo tempo até que alguém olhe.

O besouro gigante é um paradoxo. 

Igualmente, Marty McFly não estaria desaparecendo da existência quando impediu seus pais de se conhecerem, ele apenas havia alterado o status de sua linha do tempo para "universo alternativo", e a foto (e o desaparecimento dele) apenas significava que, se algo não fosse feito durante a curta janela de tempo entre os pais dele se conhecendo e o baile, os McFlys desse universo não ficariam juntos e não teriam filhos. Mas os McFlys vistos no futuro alternativo para o qual o Michael J. Fox volta não são os que ele conhecia antes, são versões alternativas deles, o que se torna dolorosamente obvio quando você percebe que eles estão completamente diferentes. Isso levanta uma possibilidade assustadora: o Michael J. Fox está preso num universo cercado por pessoas que ele não conhece, já que tudo que ele se lembra sobre a própria família não se aplica mais, ou existem dois Michael J. Fox agora. Sim, por que eles o reconhecem, significando que os McFlys tiveram, sim, um filho Marty - o problema sendo que esse não é o Marty deles, esse é o Marty que veio de um 1985 diferente, diretamente do passado em comum dessas duas linhas do tempo. Significando que, a qualquer momento, o Michael J. Fox desse universo vai chegar em casa e ver uma versão alternativa de si mesmo, e o que vai acontecer então?

Dois Michael J. Fox? Eu não posso dizer o que eu to imaginando agora.

Curiosamente, em De Volta Para O Futuro 2, uma versão do Biff de 2015 viaja para 1955 e muda o passado, criando mais uma linha do tempo alternativa para 1985, e então volta para um 2015 virtualmente idêntico ao que ele havia deixado, criando ainda mais suporte para a teoria de que o 1985 que o Marty conhecia ainda existe paralelamente ao 1985 do fim do primeiro filme, e também suportando a teoria de que um segundo Michael J. Fox estaria no 1985 que nós vimos no fim do filme - se esse Biff de 2015 existe, e ele é o Biff de 1985 (2) mais velho, e agora um Biff de 1985 (3) também existe, um Marty de 1985 (2) deve existir também, assim como um Marty de 1985 (3). Ainda mais curioso é o fato de que em nenhum momento isso é explorado na franquia.
Mas esse post já está ficando longo, então eu vou parar por aqui e depois eu volto a falar de paradoxos e viagens no tempo.

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